Aqui, quem fala, é um coração partido. Mas também é um coração
mais forte e mais corajoso. Tudo começou quando abri os olhos e a vi, tão
linda, dançando pra mim. Eu fui fisgada pelo olhar tentador que a Liberdade
lançava sob o meu corpo. A promessa de me tornar livre me levou pra cama com
ela, e foi como pular num abismo escuro, a aventura da qual eu não sairia viva
estava começando 18 anos após meu nascimento, no ano de 2013, no dia 7 de
setembro.
Mas hoje eu venho escrever sobre a data de 04/03/2016, um marco na minha
história também, como tantos outros. Não durou nem dois meses, mas foi intenso
o suficiente, como o looping de uma montanha russa, que dura apenas alguns
segundos e nem por isso é menos emocionante e marcante. Cada palavra, cada
gesto, cada momento que vivemos foram guardados no meu baú de lindas
lembranças. E as coisas ruins que não quis jogar na sua cara, eu as queimei na
fogueira do perdão, no fogo da redenção. Estou costurando cuidadosamente o
rasgo que deixou quando resolveu sair do seu lugar especial aqui no meu coração
e ir para aquele lugar comum onde eu mal consigo te ver. Esse lugarzinho que
você me ajudou a criar, ele será ampliado, ele será redecorado e selecionarei
melhor os hóspedes. Não que você tenha sido mal selecionada, entenda, você foi
perfeita, fez tudo como deveria ser feito, cumpriu um papel na minha vida,
modificou o meu destino. Mas se foi... Tão de repente quanto chegou. E eu que
nunca havia visto alguém partir assim, depois de tanta entrega, depois de
tantos planos, coisas que talvez só existissem na minha cabeça.
Cada vez que eu tento lembrar suas feições, suas maneiras, seu
cheiro... Cada vez fica mais difícil. Meu baú das boas lembranças usa um
mecanismo de proteção em que as coisas mais recentes que por algum motivo eu
escolhi deixar ali vão lá pro fundo para que eu não caia na tentação de
desejá-las novamente. Às vezes eu tenho a impressão de que isso tudo é culpa do
meu ascendente em gêmeos, às vezes eu tenho certeza disso. Mas colocar a culpa
em qualquer coisa não fará diferença agora, quando eu te vi partir sabia que
não teria volta. Acho que esse é um dos motivos que me levou a escrever sobre
isso, tentar colocar pra fora qualquer resquício de esperança. Pensei também em
apagar suas fotos, mas terei de aprender a lidar com a sua imagem, sua
presença, eu não vou fugir de você, eu vou encarar essa situação de frente, se
precisar, olho no olho. Dói, eu sei que em você também. Mas somos mulheres
fortes e vamos seguir rumo a nossa própria felicidade por mais que doa.
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