segunda-feira, 28 de março de 2016

Tarde de Sol

Entramos de mãos dadas nas águas sagradas do rio, mergulhamos nossos corpos em sentimentos ainda confusos e imaturos. Lá te apresentei à mãe, que mesmo sabendo o que se passava em seu coração me preservou naquele momento e por mais um dia eu fui feliz. Quando te vi assustada te apresentei ao pai, que sabendo o que estavas passando ouviu minha súplica e afastou de ti tudo que te perturbava. Na noite escura mantive meus olhos abertos na tentativa de iluminar teu caminho, mas o que eu não via eram teus olhos fechados e teu pensamento longe. De corpo era presente, de alma estava ausente, ainda presa a quem te prendia, por gosto ou não, me desfazia.

Desfeita estava então fui me refazer, me redescobrir naquilo que já havia cultivado e sentir o perfume das flores do meu jardim. Cada vez ficava mais evidente, a semente era boa e a jardineira trabalhou com carinho, se ela não floresceu como as outras talvez não estivesse na sua época. É preciso respeitar o tempo para que a vida possa ser completa, para que o amor crie raízes sem perder suas asas. Só o tempo dá a sabedoria necessária à adaptação dos seres.

terça-feira, 15 de março de 2016

Cinzas



Pus fogo e vi queimar
Ardeu e iluminou todo meu ser
Era uma fênix espetacular
Em seu vôo rasante, em sua matéria orgânica. Aflorou sentidos ocultos.
Me fiz drama para versar a dor.
Me fiz lágrimas para transbordar
E transcender a experiência inédita.
As cinzas estão quentes, o ar está denso. O corpo está leve e o coração suspira aliviado, descansa agora sob águas calmas. 

sábado, 5 de março de 2016

Para Lembrar

Aqui, quem fala, é um coração partido. Mas também é um coração mais forte e mais corajoso. Tudo começou quando abri os olhos e a vi, tão linda, dançando pra mim. Eu fui fisgada pelo olhar tentador que a Liberdade lançava sob o meu corpo. A promessa de me tornar livre me levou pra cama com ela, e foi como pular num abismo escuro, a aventura da qual eu não sairia viva estava começando 18 anos após meu nascimento, no ano de 2013, no dia 7 de setembro.

Mas hoje eu venho escrever sobre a data de 04/03/2016, um marco na minha história também, como tantos outros. Não durou nem dois meses, mas foi intenso o suficiente, como o looping de uma montanha russa, que dura apenas alguns segundos e nem por isso é menos emocionante e marcante. Cada palavra, cada gesto, cada momento que vivemos foram guardados no meu baú de lindas lembranças. E as coisas ruins que não quis jogar na sua cara, eu as queimei na fogueira do perdão, no fogo da redenção. Estou costurando cuidadosamente o rasgo que deixou quando resolveu sair do seu lugar especial aqui no meu coração e ir para aquele lugar comum onde eu mal consigo te ver. Esse lugarzinho que você me ajudou a criar, ele será ampliado, ele será redecorado e selecionarei melhor os hóspedes. Não que você tenha sido mal selecionada, entenda, você foi perfeita, fez tudo como deveria ser feito, cumpriu um papel na minha vida, modificou o meu destino. Mas se foi... Tão de repente quanto chegou. E eu que nunca havia visto alguém partir assim, depois de tanta entrega, depois de tantos planos, coisas que talvez só existissem na minha cabeça.


Cada vez que eu tento lembrar suas feições, suas maneiras, seu cheiro... Cada vez fica mais difícil. Meu baú das boas lembranças usa um mecanismo de proteção em que as coisas mais recentes que por algum motivo eu escolhi deixar ali vão lá pro fundo para que eu não caia na tentação de desejá-las novamente. Às vezes eu tenho a impressão de que isso tudo é culpa do meu ascendente em gêmeos, às vezes eu tenho certeza disso. Mas colocar a culpa em qualquer coisa não fará diferença agora, quando eu te vi partir sabia que não teria volta. Acho que esse é um dos motivos que me levou a escrever sobre isso, tentar colocar pra fora qualquer resquício de esperança. Pensei também em apagar suas fotos, mas terei de aprender a lidar com a sua imagem, sua presença, eu não vou fugir de você, eu vou encarar essa situação de frente, se precisar, olho no olho. Dói, eu sei que em você também. Mas somos mulheres fortes e vamos seguir rumo a nossa própria felicidade por mais que doa.