segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Duas caras

São duas caras e dois corações
Dois aquários, dois vulcões
Não suportam a mentira do ser
Que age contrário ao que diz querer
Que tanto quer? Que tanto fiz?
Não posso dar nada, só posso ser feliz
E coitada dela, pobre bichinha
Se a pena lhe cai, que caia sozinha
Não sou galinha, nem urubu
Bicho de pena que não toma no cu

sábado, 21 de janeiro de 2017

Habilidades e Metáforas

Passou um furacão, foi arrastando tudo e rompendo os laços, destruidor e silencioso, marcou o espaço. Mas eu sobrevivi escondida bem ali, sem rumo nem direção, desnorteada, entediada, com um vazio no coração. E demorou a passar, foi um tempo diferente, sem nada em mente, o viver simplesmente, angustiante e deprimente. Um exercício diário de superação, um passo contínuo para aceitação, trabalho árduo e necessário para reconstruir dentro de mim um santuário. Caprichoso em cada detalhe, um processo perfeccionista, pra que? Em poucos minutos estava entregue novamente ao seu carrasco, que bagunçou e deixou devasto todo canto.

Mas a faísca é sempre acionada quando eu não respeito os limites da superficialidade humana. E vejo queimar, e sinto arder, vejo a chuva apagar, e sinto a gota d’água doer, mas nem por um segundo estou disposta à sucumbir, minha carne é couro duro demais pra qualquer um ferir, meus nervos de aço suportam toda essa carga e você ainda me verá sorrir. As pedras estáticas invejam a sutileza dos meus movimentos, apreciam toda graça que eu faço deste momento e se decepcionam quando eu fraquejo. As flores mais delicadas e bonitas me acolhem como semelhante pelo perfume que exalo, mas morrem secas quando se deparam com a minha falta de pudor, exagero de amor, audácia de não temer a dor.


Então eu migro para o mar, e me deixo afogar, eu passeio pelo ar, e aprendo a voar. Entretanto percebo que aqui ou lá nada é tão diferente, dentro deste ovo onde tudo é ciclo não há impulso suficiente para romper a tangente, a profundidade destas relações terrenas só permite mergulhos rasos, e eu continuo tentando. Não há nada antes nem depois, ou se contenta com o agora ou cai fora. E de galho em galho eu vou brincando sem perder a estabilidade, usufruir até das pessoas mais torpes é uma excelente habilidade. 

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Sanguessuga

Eu andei sob cacos de vidro quando vagava, sem rumo, perdida na escuridão do fundo dos teus olhos. Alucinada por um futuro que não fazia o menor sentido, iludida por um passado igualmente confuso, não conseguia deixar o presente se apresentar. Mas assim que os primeiros raios de sol surgiram no horizonte eu soube que a longa caminhada havia terminado e exausta deitei sob a grama ainda umedecida pelas ultimas lágrimas que deixei cair. Naquele instante a brisa soprava suavemente arrepiando todo meu corpo, o sol cada vez mais alto brilhava e aquecia toda superfície. Este ser se aproximou e seu perfume era a perfeita tradução da liberdade, suas asas abriam-se graciosamente sem ferir os demais, seus átomos também conversavam com os meus. Não era mais um vício incontrolável que me consumia enquanto eu definhava por dentro, era agora uma presença confortante que curava todas as feridas com amor e cuidado. Outro dia, vi até uma flor brotar quando ele se distraiu, esqueci de lhe contar, mas sei que ele sentiu. Precipitando, gota a gota, sentia a chuva que molhava nossos corpos em conexão, correspondendo em silêncio o palpitar do coração.


Ventou forte e as lágrimas choviam novamente numa grande tempestade enquanto apagavam as últimas brasas de um incêndio que atingiu grande parte do lugar. E pela manhã ainda havia uma fumaça densa, o chão ainda estava quente quando eu decidi sair, os pés cansados arrastavam-se outra vez pela longa estrada. Caminhando como uma loba solitária, enojada pelo cheiro de carniça que exalava na falsidade dos abutres. Saboreei cada instante, pude escrever bastante, esse teatro foi muito rentável, mas a platéia já se levantou e foi embora. Quando as cortinas se fecham e as máscaras caem os atores agradecem pela merda e eu abandono a personagem aos poucos, desperdiço energia, deixo exaurir o corpo e a mente. Preciso de um minuto de silêncio pra me recompor, não me considero pronta para o próximo trabalho. 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O amor dos monstros

Eu me entreguei a ti em sacrifício
Meu sangue te ofereci como oferenda
Meio bruxa, meio vampira
À luz da lua dormimos e transcendemos
Nossos passados se entrelaçaram
Como num livro de realismo fantástico
Sem pai, sem pátria, pacientemente esperei
Por 20 anos na minha vida sem saber
Me viciei em teu veneno
Injeta-me liberdade em minhas veias
Num rito mágico, somos morcego e sereia
À voar pela escuridão das ruas
E mergulhar nas profundezas nuas
Respira,não é todo dia que temos esse luxo.
Quando o despertador tocar, a magia terá acabado
Me beija, vampira, quero ser como tu...
8 e meia.
-
Liʚԅe




sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Era pra ser

Suas palavras me cortavam a carne e eu tentava com todas as forças não transparecer a dor. Eu até ameacei lhe ferir depois, mesmo sabendo que seria incapaz de fazer isso propositalmente. Senti pena de mim mesma, senti culpa e vergonha, me senti alheia, como algo que sobra, um resto orgânico em decomposição.

Me transformei em uma barragem, mas a água era salgada e agitada demais pra caber em mim, seria ótimo transbordar aos seus pés, me consolar no seu colo e me enfiar no seu abraço. Suicídio na areia movediça nunca esteve nos meus planos e eu não abandonaria jamais a postura que me manteve viva até hoje.

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“Era pra poder ficar eternamente no presente
O amor soprou de outro lugar
Pra derrubar o que houvesse pela frente
Tenho que te falar
Essa canção não fala mais da gente”